Morre dona Esperança
A parte da imprensa brasileira que ainda resiste à tentação de se perder nos porões do ativismo político usou um tom fúnebre, embora mais contido que o desejado, para noticiar o mais novo óbito da pandemia moral que tem feito aos brasileiros um mal tão grande quanto à pandemia da Covid-19, aquela"gripezinha"de nada que antes do anoitecer desta quarta-feira (24) já terá ceifado a vida de 300 mil familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos de todos nós.
Enquanto isso, especialistas em Direito se dividiram entre aprovar e condenar a decisão de ontem da 2ª turma do STF, tribunal que tem sido mais político que o Congresso e o Planalto juntos por razões que a razão não desconhece.
Até por desconhecimento desses meandros, vamos passar à margem da questão legal e transitar só na via da questão moral. Se Sérgio Moro errou, precisa ele pagar o preço de sua conduta descumpridora da lei. Isso não se discute, até porque a lei deve ser aplicada a todos, independente de credo, cor, raça, condição econômica, posição política ou coisa que o valha.
Certo. Mas salta aos olhos o fato de a Suprema Corte não ter encontrado, ao menos até onde se saiba, indicativos de que provas tenham sido forjadas para incriminar o réu mais ilustre do País, cuja condenação foi não apenas mantida como agravada na segunda instância. E se não encontrou, não parece justo, nem moral, que ao condenado seja dado o direito até mesmo de voltar a se candidatar a presidir novamente a Nação que tanto prejudicou logo ali atrás, conforme está demonstrado no abundante conteúdo processual cuja autenticidade não está sendo questionada.
E como se o cenário já não fosse ruim o bastante, agora paira no ar a preocupação de que ele possa piorar ainda mais pelo chamado efeito cascata, que pode dar uma espécie de atestado de boa conduta a um exército de outros condenados.
Diante disso, só resta aos brasileiros realmente desejosos de dias melhores vestirem preto em sinal de luto pela morte da esperança de que a Lava Jato tivesse acendido uma luz no fim do túnel a nos indicar o caminho da tão reclamada moralização do País. Mas como estamos no pico de uma terrível pandemia, não é recomendável a ninguém comparecer ao velório, pois a história nos mostra que a corrupção não é menos letal dp que o novo coronavírus.