A Nau Capitânia e as marmitas
Rafael Greca é, reconhecidamente, um político com inteligência acima da média e merecedor de respeito e admiração pela maioria das atitudes tomadas desde o início de sua vitoriosa carreira política, mas às vezes acaba botando os pés pelas mãos e virando motivo até de piadas, para deleite de seus adversários.
Seu mais novo tiro no pé foi o envio, à Câmara de Curitiba, de um projeto cujo teor repercutiu muito além-fronteira nos últimos dias que ele se obrigou mudar posteriormente. O texto, que os vereadores, perplexos, se negaram a votar em regime de urgência, dizia que doravante quem "distribuir alimentos em desacordo com os horários, datas e locais autorizados pelo Município" poderá receber multa de R$ 150 a R$ 550, após advertência. A proposta foi mantida, mas agora sem multa.
“Em meio a tantos problemas, tantas demandas não cumpridas, tantas possibilidades efetivas de resolver de forma eficaz o problema, a atitude é esta: proibir e penalizar quem faz”, protestaram diversas ONGs da capital paranaense, que tem em torno de 3 mil pessoas de rua implorando a todo momento por um prato de comida para saciar a fome.
Esse fato reavivou na memória de muita gente um episódio do já um tanto longínquo ano de 2000, quando Greca ordenou um investimento de R$ 3,8 milhões (cerca de R$ 11 milhões em valores atuais) no fracassado projeto de construção da Nau Capitânia, que era para ser o ponto alto da comemoração dos 500 anos do descobrimento do Brasil, mas que não conseguiu sequer zarpar e levou à sua destituição do comando do Ministério do Turismo duas semanas mais tarde.
Em nota, a prefeitura alegou desalinhamento no fornecimento das marmitas, com excesso em alguns momentos e falta em outros, e que por isso é necessário fazer mudanças na forma da distribuição da comida. Claro que a explicação não colou! (Foto: Jade Azevedo/Coletivo Marmitas da Terra)