Enlouquecidos pela pandemia
Estamos atravessando um momento cuja marca mais visível é o radicalismo. Tateando no escuro na medida em que até agora nem mesmo a ciência conseguiu fazer uma leitura capaz de nos libertar da Covid-19, as autoridades (as sensatas, não as oportunistas e corruptas) estão experimentando toda sorte de medidas na tentativa de encontrar uma luz no fim do túnel, mas mesmo assim o maldito coronavírus insiste em buscar novos disfarces (variantes, na linguagem médica) para enganar a todos e seguir se disseminando de forma avassaladora.
Esta pandemia, cujos números não guardam semelhança alguma com qualquer outra que possa ter sido enfrentada pelos atuais viventes do mundo inteiro ao longo de toda sua existência, nos levou a outro fenômeno de idêntica gravidade: a falta do conhecimento e do equilíbrio necessários para a tomada de decisões sensatas em momentos difíceis como o que estamos vivendo. Deslumbrados e idiotizados pelas redes sociais, de repente perdemos, quase todos, a noção das regras básicas para um relacionamento civilizado entre duas ou mais pessoas.
Ninguém desconhece que este é um fenômeno comum em meio a desafios que nos colocam ante a encruzilhada da vida e da morte, mas especificamente neste caso adquiriu uma gravidade muito maior pelo momento político atravessado por incontáveis países, mas sobretudo pelo nosso.
Nem a perda de familiares e amigos parece ser suficiente para tocar o coração das pessoas a ponto de fazê-las refletir antes de emitir opiniões, muitas vezes temperadas com uma insana agressividade, sobre um tema que os plantonistas das redes sociais acreditam dominar melhor do que os mais conceituados nomes no mundo da ciência.
Como resolver isso? De maneira muito simples: ouvir mais e falar menos, ler mais e escrever menos. E, no caso específico dos brasileiros, adotar uma medida ainda mais necessária e importante para este momento: despir-se e qualquer carapuça ideológica. (Foto: Fernando Zhiminaicela/Pixabay)