Uma cidade inteira na UTI
"Tivemos um final de semana muito tenso e muito triste", desabafou nesta manhã Leonaldo Paranhos, confirmando o quadro caótico que tomou conta da estrutura de saúde de Cascavel, uma das maiores referências na área de todo o Sul do Brasil por paradoxal que isso possa parecer neste momento, mas que não está dando conta de atender adequadamente nem só os moradores da cidade e se vê obrigada a absorver um número sem precedentes pacientes oriundos de outros municípios.
"Pelo amor de Deus, as pessoas precisam ter consciência do momento que estamos vivendo", apelou o prefeito, revelando que o Hospital de Vanguarda teve de emprestar as bombas de infusão do Zoológico Municipal durante o fim de semana, período em que foram formuladas pelo menos 150 denúncias de aglomerações na cidade, apesar da rigidez do decreto estadual que entrou em vigor à zero hora do último sábado e das penalidades nele previstas.
"É melhor pagar a conta agora do que no cemitério", advertiu o conceituado médico Miroslau Bailak. "Daqui a pouco as pessoas vão começar a morrer nas ruas de Cascavel", acrescentou ele, que já foi chefe da 10ª Regional de Saúde e atualmente, além de clinicar, atua como comentarista de saúde da Rede Massa.
O leitor menos atento pode supor que essas primeiras linhas são uma espécie de agrado às pessoas que estão na linha de frente do enfrentamento da pandemia e defendem o lockdown parcial vigente no Paraná inteiro. Mas não, são unicamente para retratar um cenário verdadeiramente trágico, permeado por uma média que foi a absurdos quatro óbitos de cascavelenses por dia e de mais de uma centena de pacientes internados provisoriamente nas unidades municipais de atendimento primário à espera de vagas na rede hospitalar que lhes ofereçam uma chance maior de sobrevivência.
Mas se um lado há falta de leitos adequados para fazer frente a esse caos sem precedentes, de outro a cidade inteira está presa à UTI do negacionismo a essa peste infernal, do desrespeito às medidas preventivas contestadas no Brasil talvez mais do que em qualquer outra parte do mundo por razões de fundo meramente ideológico, das redes sociais que deram voz a "uma legião de imbecis" nas palavras do saudoso escritor Umberto Eco e, sobretudo, da falta de uma política de Estado capaz de criar as condições necessárias à adoção de medidas capazes de minimizar a propagação do novo coronavírus sem levar uma legião de empresários à falência e outra muito maior de empregados ao desemprego e à fome. (Foto: Pixabay)