Coopavel Ano 32: divisão política travou iniciativas do agro
A cada ano se superando e trazendo mais atrações, o Show Rural Coopavel de fevereiro de 2002 contou com a participação ativa de 204 expositores e um público de 118.300 visitantes, não só da América do Sul mas também do Norte, Europa e Ásia.
Enquanto o SRC se internacionalizava mais e mais, nesse mesmo fevereiro aconteceu mais um capítulo da novela em torno do ex-Aeroporto Internacional de Cascavel, antiga exigência dos agropecuaristas oestinos, rebatizado pelo governo de Jaime Lerner como Aeroporto Regional.
O governador assinou autorização para desapropriar uma área de 166 hectares para a construção do aeroporto, anunciada como o início do processo de regularização da área para as obras, mas o valor jamais foi pago.
Na mídia, o governo anunciava que já havia recursos"garantidos"de R$ 28 milhões junto ao Comando da Aeronáutica. Tudo anunciado como seguro e finalizado: "Esse é um passo definitivo para que a região decole na sua economia e na atração de novos investimentos", disse o governador, dirigindo-se aos empresários da região.
Agora só seriam necessários investimentos para a construção do acesso de 18 quilômetros entre a cidade de Cascavel e o aeroporto e para a construção do terminal de embarque de passageiros e cargas. Mas nada aconteceu.
Comder: deliberar até certo ponto
A desmobilização da campanha pelo aeroporto não se refletiu no empenho dos ruralistas quanto a conquistas na esfera municipal. Em maio, a lei 3.401/02 criava um programa permanente de apoio aos hortifrutigranjeiros.
Idealizado pelo vereador Celsuir Veronese, caberia ao programa criar incentivos administrativos e fiscais para melhoria da produtividade e comercialização dos produtos.
Os tempos permitiam otimismo. Em maio de 2002, Dilvo Grolli constatava e profetizava: "O Brasil é o quinto país do mundo em extensão territorial e já é o terceiro em produção agrícola. E vai aumentar a produção agrícola em até cinco vezes nos próximos 25 anos".
Em junho era criado o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural (Comder), mais uma tentativa de atribuir caráter deliberativo a um conselho que via de regra é apenas consultivo.
Segundo a lei de criação, sancionada pelo prefeito Edgar Bueno, o Comder tinha como objetivo "racionalizar a atuação dos organismos e entidades públicas e privadas na área de desenvolvimento rural, pela conjugação de esforços e de ações, visando aumentar a eficiência dos trabalhos comuns e específicos ao desenvolvimento rural".
Um conselho pretendendo ter poderes sobre o público e o privado, não vingou, mesmo sob a presidência de um representante da Prefeitura. Foi substituído pelo futuro prefeito, Lísias Tomé, em 2005, tentando recuperar ao menos em parte esses poderes.
Economia para o mundo
Em setembro, o consenso em torno da proteção ambiental resultou na criação do Parque Ambiental Victorino Sartori, de caráter linear, o primeiro na programação do Projeto Cidade das Águas. No jardim Guarujá, o parque preservava uma área que sofria degradação por erosão e assoreamento da nascente de água.
O setor agropecuário se mostrava indubitavelmente como o motor da economia cascavelense internacionalizada. O Município registrava US$ 78,865 milhões em exportações em 2002.
"Ainda que a diversificação da pauta tenha papel fundamental nas vendas ao exterior, os produtos agrícolas respondiam então por 76,6% das exportações. O segundo item com maior movimentação foi o de bens de capital/eletroeletrônicos. As safras explodiam: a produção de soja equivalia à metade da colheita regional. A de milho, 37%. A de trigo, 8%. As demais culturas se espremeram na fatia dos restantes 5%. A coordenação do Encomex (Encontros de Comércio Exterior) estimou que Cascavel exportou nessa época, o primeiro lustro do milênio, cerca de US$ 65 milhões por ano" (Sindicato Rural de Cascavel, Uma História de Paz, Produção e Progresso).
Faiad sai no auge
Com parte dos ruralistas vinculados ao governo do Estado e outros em dissonância, a divisão de esforços resultou, nas eleições de outubro de 2002, na eleição de três deputados federais (Eduardo Sciarra, Hermes Frangão Parcianello e Fernando Giacobo), mas nenhum deputado estadual.
Parcianello herdava o benefício histórico atribuído ao PMDB de recuperar a Coopavel e Giacobo sempre teve uma base ampla de representação, mas Eduardo Sciarra estava organicamente ligado ao ruralismo.
Foi secretário de Estado da Indústria, Comércio e Turismo do Paraná no governo Lerner, de abril de 1998 a janeiro de 2002, e em sua gestão consolidou o processo de industrialização do Paraná, com a implantação de diversas indústrias pelo interior do Estado, fortalecendo o agronegócio.
Com a divisão político-partidária entre os ruralistas, porém, nenhum dos 16 candidatos a deputado estadual com domicílio em Cascavel triunfou nas eleições gerais de 2002.
Começava a Era Lula e Roberto Requião, avesso ao projeto do aeroporto, voltava ao governo Com isso, o agro não conseguiu mais se impor como pretendia ao término dos governos Lerner e FHC.
Por sua vez, nesse ano Ibrahim Faiad encerrava seu longo período junto à direção da Coopavel, exercendo importantes funções na empresa desde a recuperação, em 1985. Saía com a cooperativa no auge. O sucesso era tanto que os sucessivos recordes batidos pelo Show Rural já nem causavam surpresa:
"Novidade, a rigor, foi o queijo parmesão da empresa paranaense receber o Prêmio Nacional de Qualidade e Sabor, pois ninguém mais se surpreende com o fato, por exemplo, de a Coopavel ser a quarta no ranking das 500 melhores empresas do setor no país" (Revista Momento Brasil, 13, junho/2003). (Leia amanhã: Agronegócio, o oxigênio do Brasil)