Coopavel Ano 27: Show Rural é evento internacional
Em janeiro de 1997, o ex-presidente da Coopavel, Salazar Barreiros, assume pela segunda vez a Prefeitura de Cascavel. Desta vez, não se elegeu pelo PMDB, como em 1988, o que lhe causou dissabores no primeiro ano da nova gestão.
A abertura indiscriminada da economia pelo governo FHC, com a sobrevalorização do real frente ao dólar e outras moedas fortes, teve como consequências o crescimento dos déficits comerciais e o enfraquecimento da indústria nacional.
O governo mexeu intensamente na economia interna, enquanto no exterior já soavam os sinais de uma crise na Ásia, que eclodiu na Tailândia no decorrer de 1997 e iria abalar a euforia com o "milagre asiático".
Na Coopavel, a regra era enfrentar as crises com trabalho. Em 1997 o Show Rural passou a ser internacional, recebendo em cinco dias de mostra caravanas de países vizinhos, além de diversos estados do país.
Com a participação de 85 empresas e a apresentação de cerca de 2,3 mil experimentos, o Show Rural Coopavel recebeu 28 mil visitantes nos 72 hectares do Centro de Experimentação e Treinamento Agropecuário (Ceta).
"Agricultores serão especialistas"
As impressões registradas por um visitante ilustram bem a importância alcançada nesse ano pelo Show Rural. Ao visitar o Paraná, foi em Medianeira que o presidente da Cooperativa Agropecuária Regional de Palmeira dos Índios (Carpil), de Alagoas, Luciano Monteiro, soube que em Cascavel seria promovida uma exposição de tecnologia rural, que ele decidiu então visitar.
"Eram tantas máquinas e inventos tecnológicos que só nos Estados Unidos podia existir uma feira como aquela"(Informe Paraná Cooperativo, Ocepar, 31/1/2005). Monteiro voltou outras dezenas de vezes, sempre trazendo caravanas numerosas de agropecuaristas nordestinos.
O presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, com plena ciência do que estava acontecendo, destacou na época a importância do SRC para os quesitos produtividade e qualidade.
Em futuro próximo, disse, as propriedades deixarão de ser olhadas pela sua extensão. Valerão o quanto produzem e a qualidade da produção. "Os agricultores terão que se tornar especialistas na implantação das tecnologias desenvolvidas pela pesquisa" (Entrevista a Paulo Pegoraro, Folha de Londrina, 8/2/1997).
A tendência a privilegiar a tecnologia no campo levou a Prefeitura de Cascavel a chamar para sua linha de frente um especialista nessa área: o engenheiro agrônomo Agassiz Linhares Neto, que trabalhou com a pesquisa genética de milho, foi secretário municipal da Agricultura em 1997 e desempenharia outras tarefas no setor agropecuário, como a presidência do Conselho de Sanidade Agropecuária de Cascavel e do Núcleo de Criadores Angus do Oeste, atuando ainda como diretor do Sindicato Rural e da Sociedade Rural do Oeste.
Vilas Rurais, emplacamento, cultivares
Em agosto era dado o primeiro passo para a formação de Vilas Rurais no Município e em setembro seria criado o programa comunitário de proteção aos fundos de vales. A Prefeitura doou ao Instituto Ambiental do Paraná uma área de 46 mil m² para sua estrutura de preservação de áreas degradadas, reflorestamento e recomposição das matas ciliares. O programa tinha os objetivos de preservação e educação ambiental.
Também em setembro uma nova bomba foi armada entre o governo federal e os agropecuaristas, com a vigência do Código de Trânsito Brasileiro. O CTB obrigava o emplacamento de tratores, máquinas agrícolas e veículos de produção artesanais, impondo custos adicionais aos produtores já obrigados a sustentar a "âncora verde".
Também alvo de intensos debates, a Lei da Proteção aos Cultivares, regulamentada em novembro de 1997 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, determinava os registros por meio do Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC).
O reconhecimento da propriedade intelectual das novas cultivares era um estímulo à inovação e foi a base de um rápido salto na qualidade dos produtos do agro. O avanço tecnológico levando a uma legislação adequada se mostrou um fato positivo para o Brasil alcançar sua posição privilegiada no mapa da alimentação.
A novela do Aeroporto Internacional
O sucesso do Show Rural em 1997 teve como primeira consequência uma retomada do esforço pela conquista de um aeroporto condizente com as necessidades de Cascavel como novo polo do turismo de eventos.
Debatido enfaticamente durante o ano, o Aeroporto Internacional de Cascavel foi garantido pelo governador Jaime Lerner, que preparava o terreno para sua reeleição no ano seguinte.
Os ruralistas afrouxaram a pressão em dezembro, quando o governador anunciou que em 1998 tudo estaria resolvido e o novo aeroporto já seria uma realidade. Mais uma vez os ruralistas confiaram e novamente se frustraram.
Participação de todos, a receita
A Coopavel, desde 1997, fortaleceu a participação dos trabalhadores no desenvolvimento da empresa. "Todos os funcionários participam do resultado da cooperativa. A Coopavel também é fiel aos princípios do cooperativismo, sendo uma empresa aberta a todas as pessoas aptas a usar os seus serviços e também, além da livre adesão voluntária, a democracia, já que tudo é discutido com seus associados e implantado para os seus colaboradores"(Dilvo Grolli, declaração à revista Momento Brasil).
O que também marcou o ano de 1997 para a Coopavel foi o lançamento da pedra fundamental das obras dos frigoríficos de suínos e bovinos, prevendo o abate, respectivamente, de 1,2 mil e 200 cabeças/dia. O investimento somou R$ 32 milhões, provenientes de recursos próprios, com a previsão, no prazo de dois anos, de gerar mil empregos diretos nas instalações e outros quatro mil, indiretamente, no campo. (Leia amanhã: Ruralistas se destacam na vida pública).
Fonte: Projeto Livrai-Nos!