Em mais uma edição de sucesso, o Show Rural Coopavel contou em 1996 com a participação de 76 empresas e 16 mil visitantes. Nessa época, os agropecuaristas completaram dez anos de resistência aos efeitos do Plano Cruzado e outros seis planos governamentais lançados depois dele.

O Plano Real conseguiu ser mais eficaz para segurar a inflação e fornecer alimentos mais baratos para a população, mas o custo para os produtores foi sua descapitalização, o que em consequência afetou as cooperativas.

Com a queda de preços e a escassez de crédito nos anos anteriores, as cooperativas jogaram forte no financiamento de associados para a compra de insumos. Uma compensação para o aperto veio com o Programa de Revitalização das Cooperativas (Recoop), criado pelo governo federal.

O programa favoreceu os setores não contemplados pela securitização de dívidas (renegociação de dívidas e prorrogação de prazos junto aos bancos).

Em Cascavel, a força hegemônica na sociedade era do setor agropecuário desde o fim do ciclo madeireiro, em 1976. Atendendo a uma exigência do setor, o prefeito Fidelcino Tolentino criou em junho de 1996 o Programa Agrícola Mecanizado (Pamec).

Destinava-se a atender a proprietários rurais, arrendatários, parceiros ou meeiros com áreas mecanizadas não superiores a cinco alqueires.

Euforia e drama

Na região de Cascavel, a avicultura sacudia o mundo ruralista com o fenômeno positivo das exportações, mas, como consequência das fortes mexidas na economia e fragilidades acumuladas, em 1996 também eclodiu o dramático episódio do Frigorífico Chapecó, que causaria sérios problemas aos avicultores por muitos anos.

A empresa interrompeu a produção de seus frigoríficos, um dos quais a unidade de Cascavel, deixando cinco mil desempregados e prejudicando dois mil criadores de frangos e suínos, além de centenas de fornecedores.

Tendo na lembrança a salvação da Coopavel, os avicultores iniciaram um movimento pela recuperação do Chapecó depois de uma greve de fome de 16 produtores de aves, alguns dos quais precisaram ser internados no Hospital Regional, hoje Universitário.

Uma década antes, os líderes ruralistas advertiram para o risco de se entregar à "febre dos aviários", recomendando a diversificação das atividades rurais. Mas os rápidos e fortes ganhos haviam realmente criado uma "febre"  contagiosa, que abriu um campo imenso ao desenvolvimento da atividade geral, mas se revelou de fato prejudicial em condições adversas.

Saúde e "febre"

Por conta da situação nacional, o ano foi também turbulento em Cascavel, sendo o último do segundo mandato de Fidelcino Tolentino. Uma demonstração clara de que a hegemonia na sociedade cascavelense estava com os ruralistas, as eleições municipais desse ano registraram um quase empate entre dois dos mais expressivos líderes políticos do setor: Salazar e Barreiros e Edgar Bueno.

Salazar venceu a eleição por pequena margem e foi empossado. Bueno requereu uma recontagem de votos que dois anos depois confirmou a vitória em favor de Salazar, com alguma variação mas também por pequena margem.

No País, ao mexer forte na economia nacional, com abertura comercial escancarada e aumento de juros, o presidente Fernando Henrique Cardoso causou insatisfação diversos em setores da sociedade. Ao se aliar com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), tais setores produziam o lulismo, ou seja, uma aliança entre a base social organizada e interesses da elite brasileira.

No futuro, Bueno assumiu essa frente e chegou a acumular três mandatos, mas Salazar também continuaria muito influente. 

Ótimo balanço

A Coopavel completou o ano de 1996 com um balanço favorável sob todos os aspectos. O destaque da temporada foi a primeira exportação para Hong Kong: uma remessa de cortes de frango à antiga colônia britânica, devolvida à China no ano seguinte. Dezenas de novos endereços no exterior se somariam em breve a essa primeira conquista.

Com isso, o faturamento da Coopavel cresceu 50%, passando de R$ 116 milhões em 1995 para R$ 177 milhões em 1996. O número de empregos nas unidades da Coopavel cresceu 19% e as exportações de industrializados, 140%. Com a abertura das exportações à Ásia, o frigorífico de aves apresentou um faturamento de R$ 110 milhões, abatendo 120 mil cabeças por dia.

"A indústria de fertilizantes elevou sua produção de 25 mil para 56 mil toneladas, em decorrência de vendas feitas no Mercado Comum do Sul, enquanto a produção de rações passou de 63 mil para 97 mil toneladas"  (Paulo Pagoraro, Folha de  Londrina, 29/1/1997). (Leia amanhã: Show Rural é evento internacional)

Fonte: Projeto Livrai-Nos!