Coopavel 25 anos: escapando do Efeito Tequila
O ano de 1995 começou repleto de incertezas, com o mundo apavorado diante da crise do México, que estourou no fim de 1994 e semeou sérias dúvidas sobre a possibilidade de salvação dos países emergentes fragilizados.
O chamado Efeito Tequila espantou investidores e forçou os agricultores a um esforço próprio maior para chegar a realizações positivas e afastar o pesadelo. Para a Coopavel, seria um ano misto de problemas externos e conquistas internas.
O Show Rural, a essa altura já consolidado com este nome, estendeu-se por cinco dias, com a participação de 64 empresas e dez mil envolvidos. O resultado encerrava bem o triênio sob a presidência de Faiad e com Dilvo Grolli na vice-presidência.
Dez anos depois de iniciado o processo de recuperação da cooperativa, ocorre uma inversão de posições: Grolli assume a presidência e Faiad fica na vice-presidência, para logo partir rumo a projetos particulares importantes no setor pecuário.
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Filho do agropecuarista Hermínio Grolli e Teresa Campagnollo Grolli, que vieram do Rio Grande do Sul em 1951, Dilvo nasceu em 11 de agosto de 1953. Foi bancário e se formou em Administração de Empresas pela Fecivel, hoje Unioeste, com pós-graduação em Gestão Empresarial e Logística.
"Meu pai é sócio desde a fundação da cooperativa e, portanto, tenho essa ligação importante com a Coopavel e com o cooperativismo desde criança. Eu e meus irmãos somos produtores rurais no Oeste do Paraná, onde produzimos soja, milho, trigo e bovinos de corte" (Entrevista a Denise Saueressig, revista A Granja, edição 794, fevereiro 2015).
Secretário Municipal de Planejamento do prefeito Jacy Scanagatta em 1980, fez parte de diversas diretorias da Acic, inclusive como vice-presidente para Assuntos de Agronegócios, com participação também na Sociedade Rural do Oeste, Cotriguaçu e Ocepar.
Protestos e negociações
O ano de 1995 foi mais um período difícil para os produtores rurais, prejudicados pela política econômica desenhada pelo governo federal para atender aos interesses do capital financeiro internacional.
Foi assim que em 16 de março milhares de agricultores do Oeste protestaram mais uma vez contra o governo, acusado de levar a agricultura à falência. Em meio à marcha com tratores e colheitadeiras, o prefeito Fidelcino Tolentino ameaçou fechar as estradas se não houvesse uma resposta até o fim do mês.
Para acalmar as lideranças regionais, a propaganda oficial martelava o andamento das obras da Ferrovia Paraná Oeste, que avançava por meio de uma parceria celebrada entre o governo do Paraná e o Ministério do Exército, cujos batalhões ferroviários de Lajes (SC) e Araguari (MG) construíram a infraestrutura do trecho Guarapuava-Cascavel, com 248 quilômetros.
Os trilhos da Ferrovia Paraná Oeste chegaram a Cascavel no dia 2 de agosto de 1995 e o início do transporte de cargas de soja se deu logo no dia 24 daquele mês.
Com essa conquista, esperada por décadas., a pressão sobre a necessidade de obras ferroviárias Cascavel-Foz do Iguaçu e Cascavel-Guaíra foi contornada em outubro pelo Ministério dos Transportes com o compromisso de duplicar a BR-277 no trecho Cascavel-Foz do Iguaçu.
A batalha da securitização
O que realmente começou a acalmar os agricultores, ainda muito tensos e não sem sobressaltos, foi a garantia de poder renegociar suas dívidas em 25 anos com o pagamento vinculado ao preço mínimo do milho.
"Isso foi a salvação da agricultura naquela oportunidade. Começa então a fase da tecnificar, investir na propriedade para obter maior produtividade", sintetizou Modesto Félix Daga em depoimento ao livro Sindicato Rural de Cascavel - Uma História de Paz, Produção e Progresso.
Ainda havia uma batalha essencial pela frente: a lei 9.138/1995 previa o alongamento das dívidas pelas instituições financeiras para auxílio de produtores rurais, suas associações, cooperativas e condomínios, inclusive as já renegociadas, realizadas até junho, mas alguns bancos particulares não queriam fazer a securitização dos agricultores.
Houve muita pressão política, a imprensa foi decisiva em denunciar as manobras e por fim os bancos tiveram que aceitar o parcelamento das dívidas.
Para a Coopavel, cujos produtores encerraram o ano com mais esta vitória, 1995 marcou o sucesso inicial da estratégia de processar os produtos agrícolas, transformados em carne e derivados do leite, industrializados pela própria cooperativa.
O frigorífico de aves, com capacidade para abater 44 mil aves por dia, foi decisivo na afirmação do projeto de verticalização da Coopavel que teve em 1995 provas concretas de seu sucesso. (Leia amanhã: Hong Kong, as galinhas de ouro e as asas da crise)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!