Coopavel Ano 20: ruralistas venceram grandes lutas, mas outras vieram
A Cascavel que o jovem contador Ibrahim Faiad encontrou no final da década de 1950, vindo de Foz do Iguaçu para gerenciar o Bamerindus, simbolizava a imagem que a cidade tinha na época. Bem cedo, Faiad, munido de sua pasta de documentos, saía do Hotel Americano, onde se hospedava, e caminhava por algumas centenas de metros de capoeira, em uma trilha, para chegar à agência bancária.
Certa manhã, Faiad se dirigia pela trilha a mais um dia de trabalho quando ouviu estampidos de revólver à sua frente e viu cair um corpo, banhado de sangue. O alvejado também era um hóspede do Hotel Americano. Horas mais tarde se soube que a pessoa foi assassinada por encomenda, mas era a vítima errada. O verdadeiro alvo escapou. Para os jagunços que atiraram, foi um mero acidente de trabalho (Cascavel, a Justiça).
Eram tempos difíceis, mas no Bamerindus, e depois na Coopavel e por todas as funções e cargos que exerceu em Cascavel e no Paraná, Faiad contribuiu para que Cascavel mudasse a imagem de cidade violenta, reino de jagunços, para um centro excelente de prestação e serviços, com uma agropecuária avançada e os serviços próprios de um polo regional.
Para compensar os acertos assegurados pelos homens de visão que desde a década de 1940 edificaram a base industrial combinada com a estruturação de um empório comercial e imobiliário e transformaram uma vila acanhada em metrópole também ocorreram erros de avaliação, como os que levaram à grande crise que por um triz não liquidou a Coopavel e também temores infundados.
Muitos debates e seminários se realizaram para estruturar Cascavel rumo à década final do segundo milênio, como, em junho de 1990, o Ciclo de Debates Informação e Tecnologia: os Novos Desafios de Desenvolvimento de Cascavel e Região.
O palestrante convidado, professor Adelar Francisco Baggio, ex-reitor da Universidade de Ijuí (RS), impressionou a audiência. "Como um cavaleiro do Apocalipse, projetou a soja como péssima aposta no futuro. A futurologia pessimista em relação à soja foi desmentida na década seguinte pelos ganhos de produtividade da leguminosa, que inviabilizaram produtos sintéticos alternativos - o motivo da preocupação central de Baggio" (Sindicato Rural de Cascavel, Uma História de Paz, Produção e Progresso).
Na avaliação dos ruralistas, que unidos venceram os obstáculos mais prejudiciais para sua vida de trabalho sempre arriscada pelo clima e pelas cabeçadas dos sucessivos governos, o poder público não teve a capacidade de estruturar a sociedade para as dificuldades futuras que viriam como resultado dos processos de urbanização.
Não sabendo se antecipar aos problemas sociais, que aumentaram as desigualdades e a criminalidade, pondo nas mãos dos agricultores, que venceram suas lutas de classe, no final do segundo milênio, a tarefa de encontrar soluções para as muitas demandas da sociedade a resolver.
Na Prefeitura, o ex-presidente da Coopavel, Salazar Barreiros, voltou sua gestão a combater o problema do menor abandonado, que pressionava a criminalidade e impulsionava as redes de drogas, o acúmulo de problemas ambientais, carências habitacionais e o permanente déficit na área da saúde.
Não sem dificuldades no cotidiano, mas com habilidade de seus dirigentes e ações corretas e combinadas, a Coopavel, depois de tantos obstáculos, o Sindicato Rural, com o aprendizado de décadas, já desde a Associação Rural de Cascavel, e a nova Sociedade Rural, com uma condução tecnicamente perfeita no desenvolvimento do setor pecuário e respondendo pela alta qualidade da produção regional, criaram uma relação mutuamente vantajosa e sem os antagonismos da década que se encerrava, contribuindo para o combate aos problemas sociais, gerando emprego, renda e oportunidades.
"Este período de dificuldade levou ao amadurecimento, sem caracterizar ruptura com o passado, mas voltado para o crescimento e geração de oportunidade de renda para os produtores rurais e aumentar a eficiência da Cooperativa, com um plano estratégico de longo prazo, que além de dar estabilidade, também seria um projeto viável aos produtores rurais e para a economia do oeste do Paraná" (Revista Coopavel, dezembro 2015).
O Sindicato Rural engendrou uma estrutura de apoio aos agricultores associados que zerava o pesadelo da enxurrada de ações trabalhistas dos anos anteriores, além de permitir também aos empregados o próprio desenvolvimento profissional e reciclagem.
O projeto da avicultura da Coopavel começou em 1990 sem apoio financeiro, com base em seus próprios recursos, e logo disparou a ganhar prêmios e ver seu Show Rural saudado com interesse e respeito no país e no exterior.
A pecuária obteve ganhos de qualidade impressionantes. Um exemplo marcante do desenvolvimento da pecuária cascavelense foi dado por um grupo de 25 pecuaristas de Cascavel e região, o constituir o Núcleo de Criadores Angus do Oeste do Paraná em 1990. Um de seus idealizadores e primeiro presidente foi José Filippon, que se notabilizou por uma excelente gestão à frente da Acic.
A Acic sempre foi parceira das demandas dos ruralistas. Na gestão de Pedro Boaretto (na foto com Filippon) à frente da Acic foi desenvolvida uma campanha conjunta com a Coopavel para estimular o consumo de produtos fabricados e industrializados em Cascavel e região, iniciativa do Conselho da Mulher Executiva.
O Censo Demográfico de 1990 (IBGE) definia com clareza a nova realidade urbana de Cascavel: dos 192.990 habitantes contados, 177.766 residiam na cidade e apenas 15.224 no campo.
Para a Coopavel, um dos marcos importantes do ano foi a entrega de sua filial em Braganey e a formulação do Projeto Carne, a se desenvolver por meio de três frigoríficos. Com isso, a Coopavel se reinventava, agora oficializada como Cooperativa Agroindustrial. (Leia amanhã: As dívidas que vieram do nada)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!