Coopavel Ano 19: a colheitadeira queimada e o Show Rural
Com a surpreendente eleição de Salazar Barreiros para a Prefeitura em 1988, Ibrahim Faiad passará a exercer as funções de diretor-presidente da Coopavel, tendo Dilvo Grolli como vice, a partir de março de 1989.
Faiad, que no futuro seria secretário nacional de Política Agrícola do ministro Francisco Turra (2001), nasceu em Wenceslau Braz (PR), em 28 de junho de 1938. Aos 16 anos começou a trabalhar no Banco Bamerindus como auxiliar administrativo. Promovido a contador, depois a gerente e diretor regional, foi o trabalho no Bamerindus que o trouxe a Cascavel.
No Oeste, desempenhou funções no cooperativismo e foi conselheiro da Sociedade Rural do Oeste e da Federação das Indústrias do Paraná. No Estado, foi secretário-chefe de Gabinete do ex-governador Jaime Lerner e implantou a Agência de Fomento do Paraná.
O dia do show
Desde quando foi vice-presidente da Coopavel, entre 1986 e 1989, Faiad participou ativamente da recuperação da Cooperativa. Ele e Dilvo Grolli deram continuidade aos projetos que logo viriam dotar a Coopavel de uma estrutura invejável e uma ação exemplar.
"Em 1988, participei de um grupo que foi visitar a Farm Progress Show, perto de Chicago, a maior e mais antiga exposição de equipamentos agrícolas ao ar livre nos Estados Unidos, com mais de 500 expositores. Nós estávamos procurando uma nova visão para desenvolver a agricultura de nossa região e ficamos encantados com a maneira como o evento passava conhecimento e tecnologia ao produtor rural e decidimos trazer e adaptar a ideia ao Brasil. A Coopavel poderia continuar fazendo seu dia de campo nos moldes tradicionais, como todo mundo faz até hoje, mas, em 1989, fizemos nosso primeiro dia de campo com essas mudanças" (Dilvo Grolli, entrevista a Norberto Staviski, revista Globo Rural).
Lançado assim como Dia de Campo em 1989 para difundir tecnologia aos agricultores da região, o Show Rural, com uma área de 72 hectares cortada por 15 quilômetros de ruas pavimentadas, evoluiu para se tornar o maior evento do ramo na América do Sul, chamando a atenção de produtores dos estados do Sul, do Centro-Oeste, Paraguai e Argentina.
Protestos intensos e longos
O ano de 1989 foi de perdas para Cascavel, com a criação dos novos municípios de Lindoeste e Santa Tereza do Oeste, para o qual, em sentido contrário, a Coopavel estendia sua presença, entregando ali mais uma de suas unidades, mas o que mais caracterizou o ano foi uma nova onda de protestos no meio rural.
Em meados de junho as cooperativas da região paralisaram a comercialização da soja em protesto contra os baixos preços. As indústrias de esmagamento cessaram a produção de óleo em solidariedade aos sojicultores e a BR-277 foi bloqueada no movimento que se chamou O Levante da Soja.
O protesto prosseguiu por toda a segunda quinzena do mês, inclusive com a queima de uma colheitadeira na pista da rodovia federal. No fim do mês, pressões do governo paraguaio levaram o Ministério da Justiça a ameaçar com severas represálias os sojicultores que mantinham a BR-277 sob bloqueio.
A pecuária mostra serviço
Neste ano em que os agricultores começavam a virar o jogo em sua batalha contra as atrocidades do governo, um ponto importante sobre a década de 1980, no geral uma década perdida para o Brasil, foi a qualidade no estímulo, fortalecimento e estruturação da atividade pecuária bovina de corte, que respondeu por um expressivo aumento do rebanho de Cascavel.
A riqueza gerada pela madeira durante seu ciclo forte e pelo consequente desenvolvimento do comércio e dos serviços favoreceu os investimentos na agropecuária: terras, gado e soja.
"Durante as décadas de 1970, 1980 e 1990, profissionais liberais passaram a investir recursos na aquisição de propriedades rurais, conferindo aos agropecuaristas da região um novo e dinâmico perfil sócio cultural. São engenheiros, médicos, dentistas e advogados, que diversificaram suas atividades e investiram capital na aquisição de terras, tanto no Oeste do Paraná como em outras regiões do Brasil, ampliando o seu controle sobre diversos setores da economia" (Irene Spies Adamy, Entidades Rurais Patronais do Oeste do Paraná e o I PNRA).
A Coopavel também participava dessa tendência. "Uma coisa que vi é que tínhamos de mudar e rápido a atuação da cooperativa. Ela tinha de deixar de ser apenas receptora, para ser também processadora de alimentos produzidos no campo. Isso iria dar fôlego e valorizar a produção agrícola" (Ibrahim Faiad, Boletim informativo da Faep, maio de 2012). (Leia amanhã: Ruralistas venceram grandes lutas, mas outras vieram)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!