Coopavel Ano 18: Kuhn diz adeus, Barreiros surpreende
Em fevereiro de 1988 o movimento ruralista estava irremediavelmente dividido. De um lado, a agressividade da UDR. De outro, a intransigência do MST.
Tentando pela última vez unificar o movimento para lutar contra as manobras do governo controlado por interesses transnacionais, o presidente do Sindicato Rural, Wilson Carlos Kuhn, propôs um encontro entre os sindicatos patronal e laboral, mas a proposta foi derrotada pela maioria dos diretores do SR, influenciados pela UDR.
Kuhn sentiu quer a bandeira da unidade estava perdida, mas tentaria fazê-la funcionar na prática. No final de maio, em harmonia com a Coopavel, condenou o processo de privatização do mercado agrícola.
Criticou a entrega da comercialização do trigo a interesses estrangeiros porque isso contrariava os interesses dos agricultores brasileiros e as necessidades do País.
Últimos protestos
Uma saraivada de protestos foram encaminhados às autoridades das mais diversas áreas. Em seus derradeiros atos como presidente do Sindicato, Wilson Carlos Kuhn, representando a voz do SR e também dos agricultores ligados à Coopavel, analisou criticamente as medidas governamentais para o custeio agrícola, principalmente no tocante ao trigo, e declarou que esse pacote inviabilizava a cultura na região Sul.
As medidas, disse, afetarão os produtores, a pesquisa, as cooperativas, as empresas rurais, comerciantes de insumos e a sociedade consumidora em geral.
Nem assim ele conseguiu evitar que as discordâncias aumentassem e por isso entregou o pedido de renúncia à diretoria do SR em 9 de agosto. Uma nova diretoria foi organizada, agora tendo à frente Nelson Menegatti.
Kuhn se despediu do Sindicato lamentando dissensões internas entre ruralistas e defendendo a necessidade de maior participação dos líderes em reuniões, conclaves, debates e seminários, para defender os agropecuaristas em todas as suas necessidades.
Constituição favoreceu o campo
Durante os debates em torno da Constituição, por todo o País se mantinha a angústia dos agricultores, sofrendo o cerco das transnacionais das commodities, em situação similar à dos últimos anos da ditadura.
Já ex-presidente do SR, Wilson Kuhn disse que a nova Constituição traria uma nova realidade para o campo. Após a promulgação da nova Carta Magna, em outubro, Nelson Menegatti concluiu que a Constituição atendia aos interesses dos produtores rurais, não havendo necessidade de mais radicalismos a partir daí. Na verdade, o governo demorou a ceder e protestos mais vigorosos ainda seriam necessários em futuro breve.
A essa altura, a Coopavel já não precisava mais respirar por aparelhos. A força do cooperativismo se evidenciava não só no enfrentamento do governo, por meio da ação política do SR, mas também na conquista da ferrovia, que Roberto Wypych chamou de "Ferrovia da Soja".
Em março de 1988 as cooperativas da região anunciavam a intenção de participar com pelo menos 22,5% da formação do capital inicial da Estrada de Ferro Paraná Oeste S.A. (Ferroeste), empresa de economia mista com o controle acionário do Estado do Paraná, encarregada de construir e gerenciar a Ferrovia Paraná-Oeste por decreto do presidente José Sarney.
Muita história acontecendo
Enquanto o Brasil debatia os detalhes finais da nova Constituição, outro episódio histórico acontecia, longe do Brasil. Dilvo Grolli e Rogério, em junho desse ano, visitaram em uma fazenda do Illinois (EUA) a Farm Progress Show, considerada a maior feira de máquinas agrícolas do mundo.
Ali surgiu a ideia de"partir para um evento grandioso, pautado na tecnologia"(Dilvo Grolli, Pitoco, 2 de fevereiro de 2018): "Dentro do avião da Varig, no voo de retorno, desenhei o Show Rural em um guardanapo de papel".
O desenho virou realidade com a realização do Dia de Campo, no ano seguinte, para concentrar esforços no desenvolvimento tecnológico da agricultura. Em 1995 a promoção passaria a ser conhecida como Show Rural Coopavel.
Mais história aconteceu em 15 de novembro de 1988, quando parecia impossível evitar a vitória do deputado federal constituinte Jacy Scanagatta para seu segundo mandato à frente da Prefeitura de Cascavel.
O resultado foi surpreendente: o advogado Salazar Barreiros, na carona do prestígio obtido com a recuperação da Coopavel, venceu por uma pequena diferença: 345 votos num universo então de 87 mil eleitores. (Leia amanhã: A colheitadeira queimada e o Show Rural)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!