Coopavel Ano 17: a maior (e também a última) união
O Plano Cruzado teve como um de seus piores efeitos colaterais o desaparecimento da carne no mercado consumidor. Bois não faltavam, mas o mercado virou ao avesso e o jornal O Paraná noticiava, em 20 de novembro de 1986: "Carne, nem para remédio!"
Havia uma tabela de preços máximos a ser pagos aos pecuaristas na compra e venda de bovinos e suínos. Como tabelamento gera contrariedade, não havia de carne de gado nos supermercados e açougues porque os frigoríficos não conseguiam comprar animais para abater.
No Sindicato Rural, onde perdia força para os adeptos da União Democrática Ruralista, o presidente Wilson Carlos Kuhn sustentava que a solução para os problemas da agropecuária passava pela pressão política unida, porque as reivindicações por ofícios não bastavam e a UDR era uma organização política que dividia.
Wilson foi vencido na reunião final do SR de 1986, em dezembro, quando propôs participação dos ruralistas na greve geral que uniria os setores descontentes com o governo. Em atitude conciliadora, em janeiro 1987 o presidente da Sociedade Rural, Sady Lazari, convidou os dirigentes do SR para unir a todos promovendo reuniões conjuntas.
"O pequeno e o grande produtor eram um só, que é como sempre deveria ser. Juntaram-se em movimentos sociais, passeatas, porque todos os planos financeiros que o governo fez prejudicaram os agricultores. Nós estávamos todos falidos. Chegamos no Plano Bresser com todos os agricultores quase em situação de insolvência"(Modesto Félix Daga, em Sindicato Rural - Uma História de Paz, Produção e Progresso).
Protestos fortes
Ainda em janeiro de 1987 o Núcleo dos Sindicatos Rurais do Oeste iniciava um forte movimento contra as medidas que o governo vinha adotando na agricultura, que levou a uma paralisação dos produtores rurais em 12 de fevereiro. Cerca de 300 agricultores ocuparam o centro de Cascavel com ceifadeiras, tratores e outras máquinas e implementos em protesto. A BR-277 foi fechada com máquinas agrícolas.
Um movimento ainda mais forte estava previsto para 10 de março, desta vez em demanda por novos valores para os preços mínimos, redução dos juros agrícolas e liberação da correção monetária para financiamentos de custeio e investimento.
A proposta era promover um movimento pacífico, mas forte: fechariam os bancos com máquinas agrícolas e lançariam um manifesto em praça pública. A Acic assegurou o apoio dos empresários do comércio e da indústria à manifestação.
Assim Cascavel estaria toda unida. As casas comerciais fechariam as portas e os bancos seriam todos trancados com máquinas agrícolas. Articulando o movimento, Wilson Kuhn conseguiu a façanha de unir as entidades patronais e os sindicatos de trabalhadores, inclusive a UDR, a Sociedade Rural e a Coopavel.
10 de março de 1987, por essa articulação bem feita, passou à história como o Dia de Protesto. Foi a mobilização que mais uniu a população de Cascavel desde o movimento pela criação do ensino superior, em 1968.
Na fase de organização, porém, houve desentendimentos entre a UDR e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais. No fim, a UDR teve uma participação quase nula. O que deu grande força ao movimento foi a liderança do SR, o apoio de associados da Coopavel e a adesão da Acic à proposta.
Últimas tentativas de Wilson
A continuidade do protesto foi enfraquecida pela desistência de um grupo do Sindicato Rural, novamente dividido. Uma divisão tão tensa que os líderes favoráveis ao movimento foram até ameaçados de expulsão.
Esta ameaça se dirigia até a Wilson Kuhn, favorável à continuidade. Inconformado, Wilson pediu licença das funções de presidente e o protesto continuou com parte do SR, os trabalhadores rurais e a Coopavel.
Para Wilson, todos os setores ruralistas deveriam se unir em apoio ao Sindicato Rural, "a melhor forma de representação política reivindicatória diante do não atendimento do governo às pretensões da agricultura e diante do radicalismo que se abriga no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cascavel".
Fez um apelo para que os membros da Sociedade Rural se filiassem ao Sindicato, que concordaram com a adesão. Para Nelson Menegatti, o Sindicato Rural, a Sociedade Rural e a UDR deveriam "falar a mesma linguagem", pois a situação não recomendava divisão.
Em abril, o SR advertiu que o desemprego no campo aumentou 600% em poucos meses. A carne faltando, os proprietários rurais sofrendo uma enxurrada de ações trabalhistas, os juros altos e a política agrícola desestimulante deveriam unir, mas a desunião voltou quando a UDR se instalou no Sindicato Rural.
Por ser um movimento político-partidário, a UDR irritou o presidente Wilson Carlos Kuhn, que decidiu estender sua licença por mais 60 dias, passando o cargo ao vice-presidente Nelson Menegatti.
Apesar da desunião, a Coopavel se apruma
No geral, a safra rendeu muito bem, mas a política agrícola seguia caótica. A produção foi tanta que faltaram armazéns e a Prefeitura de Cascavel ofereceu os ginásios de esporte para armazenar parte da safra recorde de grãos.
Muito descontente, Wilson Kuhn só decidiu voltar à Presidência do SR para uma reunião com o presidente da Coopavel, Salazar Barreiros, em julho, para discutir o novo pacote agrícola do governo, que ambos entendiam como insuficiente, exigindo dos líderes rurais uma campanha de esclarecimento aos produtores para não ser novamente explorados pelos bancos.
Mas a desunião dos ruralistas aumentou. Em setembro, até o outrora unido Núcleo Regional dos Sindicatos Rurais vivia forte conflito interno.
Em sentido positivo, a Coopavel já vivia uma ótima correção e rumos. Em assembleia extraordinária convocada prestar contas, em 12 de dezembro, não se falou de desgraças, mas de viabilizar um abatedouro de aves, para atender aos cooperados e aviários da região.
Orientada pelo vice-presidente Ibrahim Faiad, a assembleia apoiou o projeto de edificação da nova planta produtiva, também chamado de frigorífico polivalente. O projeto tinha como etapa inicial e prioritária a construção da parte correspondente ao abate e industrialização da carne de frango (Guilherme Dotti Grando, Luta de Classes, Trabalhadores e Frigoríficos em Cascavel-PR [1980 - 2015]). (Leia amanhã: Wilson diz adeus, Salazar surpreende)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!