Coopavel Ano 16: Plano Cruzado seduz a cidade e divide o campo
A expectativa de que a posse do presidente eleito, Tancredo Neves, viesse a iniciar um ciclo democrático no país se frustrou com sua morte, em abril. Assume a presidência o vice José Sarney, ex-líder do partido de sustentação da ditadura, a Arena. Com o país aturdido pela situação, o líder ruralista cascavelense Wilson Carlos Kuhn defendia a necessidade de uma pressão ainda maior sobre o governo para reverter os danos causados à agropecuária pelo governo anterior.
Em sentido contrário, Nelson Menegatti pregava a necessidade de concentrar energias para defender os proprietários de terras ameaçados por invasões. Apostava na esperança de que o governo pós-ditadura viesse apresentar perspectivas favoráveis para o setor rural. Por sua vez, Antônio Dionízio Bosquirolli propunha as duas ações como necessárias: pressionar o governo como instituição e agir defensivamente contra invasões de terras.
A situação dos agropecuaristas permanecia muito difícil devido à conjuntura nacional e à divisão de posições que já se cristalizava no movimento, desunindo agricultores com e sem terra. Pesava muito o quadro ainda instável da Coopavel. Em janeiro de 1986, Salazar Barreiros se afastou da direção da Coopavel e o médico veterinário Joaquim Felipe Laginski (foto) assumiu a presidência, permanecendo até maio desse mesmo ano.
Transição difícil
Às voltas com a difícil transição na Coopavel, Joaquim Laginski tinha experiência em comando: chefe regional da Acarpa (Emater), fundador e presidente da Associação Paranaense de Suinocultores, destacou-se em Marechal Cândido Rondon no incentivo aos grupos 4S.
Depois também seria diretor do Sicredi e da Cotriguaçu, vice-presidente da Sociedade Rural do Oeste e secretário municipal do Interior de Cascavel em 1993, nomeado pelo prefeito Fidelcino Tolentino.
O Núcleo dos Sindicatos Rurais do Oeste propôs fechar o Banco do Brasil e as prefeituras em 3 de março caso o governo não atendesse às reivindicações encaminhadas.
A medida foi sugerida pelo presidente Wilson Kuhn ao corpo dirigente do Sindicato Rural de Cascavel, mas seus diretores preferiram esperar. Na reunião de 27 de fevereiro, Wilson insistiu no fechamento do BB e das prefeituras, mas os diretores rejeitaram a proposta.
Como dando razão ao calejado Wilson Kuhn, no dia seguinte o governo Sarney baixou o Plano Cruzado, um conjunto de medidas econômicas que pretendia recuperar os estragos da ditadura, mas, lançado em 28 de fevereiro de 1986 pelo ministro Dilson Funaro, da Fazenda, o Plano Cruzado foi desastroso para os agricultores.
Eles haviam desmobilizado seu movimento de pressão confiando na "Nova República" e sofriam agora as consequências de acreditar em promessas sem participar das decisões, que era a reivindicação mais importante.
Proposta: extinção da Coopavel
Na sociedade cascavelense havia muita preocupação com os problemas da Coopavel, ainda sem uma solução concreta à vista, mas o Plano Cruzado trazia esperança e euforia para muitos;
Para os agricultores, entretanto, a realidade ainda era um governo antidemocrático. Permaneciam entulhos autoritários e pioravam as tensões no campo.
Com os preços congelados e tabelados, o governo tentava ganhar apoio dos centros urbanos controlando o preço dos alimentos, mas asfixiava o campo, depois de anos a fio já sob forte sufoco.
Para o campo, a situação permanecia tensa e sem perspectivas. Uma nervosíssima assembleia geral começa na Coopavel em 15 de março de 1986 sob a ameaça a fechamento das portas da cooperativa.
O projeto cooperativista histórico, iniciado pela antiga Associação Rural, mais uma vez se encontrava diante de obstáculos gigantescos: no passado, o medo que os agricultores mais humildes tinham da união cooperativista "comunista"; agora, o temor de que a união tão duramente obtida fosse frustrada pela descontinuidade e a falência.
A resistência
Dar fim à Coopavel era a proposta da chapa única concorrente às eleições desse dia. Seus integrantes, por mais que hoje isso possa parecer absurdo, não vislumbraram na época uma salvação para a cooperativa cascavelense.
Nos bastidores da assembleia, o sentimento de derrota começou a ser substituído por um brado de resistência. Era preciso descartar a chapa única e retomar a luta, sem a opção derrotista de fechar a cooperativa histórica. A opção foi rejeitar a agenda da chapa apresentada e manter as tarefas da diretoria provisória.
Na cidade, uma grande parte da população mantinha a torcida pelo sucesso do Plano Cruzado, mas a terra arrasada em que a ditadura havia deixado o país requeria mais democracia e não mais imposições em prejuízo do campo.
O gerente do Ceag (futuro Sebrae) em Cascavel, Altevir Cordeiro, deu o tom daquele momento: "Se não houver base agropecuária e industrial, o comércio não conseguirá sobreviver. Além disso, é preciso que a região tenha outros meios de subsistência, além da agricultura, porque o que ocorre hoje, é que se a agricultura vai mal, tudo piora, e se houvesse mais indústrias muitos problemas não existiriam, ou existiriam mas com menor intensidade, como por exemplo, o desemprego".
Enfim nova diretoria
Em maio, a Coopavel passa a ter uma diretoria duradoura, sob a presidência de Salazar Barreiros, tendo Ibrahim Faiad como vice-presidente. Por conta das ligações diretas de Salazar com o PMDB, o movimento cooperativista passou a ter esperanças na recuperação rápida.
A preocupação dos ruralistas nesse momento era a cobrança de juros extorsivos em financiamentos agrícolas. Em junho, mais uma vez havia incertezas no campo frente a um pacote duvidoso do governo relativo ao custeio da soja e do milho. Wilson Kuhn tentava manter os ruralistas em ação de protesto, mas o PMDB já havia neutralizado a oposição com seu Plano Cruzado, que fracassou, dentre outras causas, por não atender aos apelos do campo.
O Plano Cruzado só deu certo eleitoralmente: o PMDB teve uma extraordinária vitória no pleito de outubro e a Coopavel já respirava por aparelhos, mas a economia nacional continuava em xeque. Para a cooperativa, o importante saldo de 1986 foi o início das atividades da filial de Catanduvas. (Leia amanhã: A maior [e também a última] união)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!