Gado leiteiro produz bem mais pastando na sombra
Pesquisadores da Embrapa Cerrados (DF) e da UnB (Universidade de Brasília) constataram que vacas Gir Leiteiro que tiveram acesso a áreas com sombra de eucalipto produziram quatro vezes mais embriões durante o período mais quente do ano e, ao longo do período do estudo (33 meses), 22% a mais de leite.
O estudo foi desenvolvido durante dois anos e meio e seus resultados reforçam a importância de oferecer aos animais condições confortáveis para o bom desempenho reprodutivo e estimulam o uso dos sistemas integrados com floresta, que mantêm árvores nas pastagens.
"Identificamos que o uso da ILPF com vacas zebuínas leiteiras pode ser recomendado, pois além de aumentar a produtividade de leite e a quantidade de embriões produzidos, também melhora a qualidade do produto e do pasto, o valor nutritivo da forragem e os parâmetros fisiológicos e comportamentais das vacas", afirma a pesquisadora Isabel Ferreira, líder do projeto.
Os especialistas observaram que em dias quentes os animais têm estresse por calor, o que compromete a produção e a composição do leite, a reprodução, a temperatura superficial e o comportamento ingestivo (ingestão, ruminação e repouso). A pesquisa identificou que o ambiente sombreado reduziu a temperatura da superfície corporal das vacas em diferentes pontos em até 3%.
Além de aumentarem a produção de leite, as vacas Gir Leiteiro que tiveram acesso às áreas com sombra de eucalipto proporcionada pelo sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta também melhoraram a qualidade do produto, com 6% a mais de extrato seco desengordurado (extrato seco total, menos o teor de gordura), quando comparado ao que foi produzido pelos animais submetidos a pleno sol. "A presença das árvores melhora a rentabilidade do produtor de leite, tanto por causa do aumento da quantidade do produto, quanto pela possibilidade de melhor remuneração dos sólidos totais pelos laticínios e pela venda da madeira para diferentes usos", enfatiza Isabel.
"Os animais que ficaram à sombra também produziram 16% mais folículos na superfície dos seus ovários, e 75% a mais de ovócitos totais foram recuperados pela aspiração folicular. O número de ovócitos viáveis aumentou em 81%, e o de embriões em quatro vezes. Consideramos uma diferença bastante importante", afirma o pesquisador Carlos Frederico Martins.
Outro fator relevante identificado pelos especialistas foi que, com a sombra, o tempo de ruminação dos animais aumentou em 32%. Segundo Isabel Ferreira, essa elevação é desejável, pois quanto mais tempo o animal fica ruminando, mais ele divide as partículas de forragem e as deixam expostas para a fermentação animal. "Além disso, produzir mais saliva tem um efeito tampão no rúmen, o que favorece a digestão das fibras e disponibiliza mais nutrientes aos animais", explica.
Os pesquisadores identificaram, ainda, que a qualidade da forragem também é impactada pela presença das árvores no pasto. Há alguns anos, essa ideia poderia ser considerada fora de propósito. Atualmente, essa integração se mostra cada vez mais uma alternativa sustentável de produção agrícola. A adoção da tecnologia Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, em seus diferentes arranjos, vem crescendo no Brasil cerca de 10% ao ano.
Também participaram da pesquisa Álvaro Fonseca Neto, Artur Muller, Fernando Macena, Gustavo Braga, Heidi Cumpa, Juliana Caldas, Karina Pulrolnik, Roberto Guimarães e Sebastião Pedro, além da professora da UnB Concepta McManus. (Foto: Reprodução Revista DBO)