Um País rasgado ao meio
Só quem tem o hábito de acompanhar a política a fundo tem a percepção do quanto ela (a política) faz bem ou faz mal aos que dela dependem - e todos dependem, ao contrário do que muitos imaginam. E sua transformação de remédio em veneno acontece justo no momento em que os protagonistas do debate colocam seus projetos pessoas acima dos interesses coletivos.
Sendo assim, pois, resta claro que o Brasil vive um momento institucionalmente perigoso, para os mais experientes até mais perigoso do que aquele que levou a um regime de exceção implementado como solução, à época, para um cenário menos grave que o atual.
Esse racha ficou ainda mais concreto nesta segunda-feira (23), quando 14 dos 27 governadores emitiram nota conjunta solidarizando-se com o STF diante dos ataques que a Suprema Corte vem recebendo do presidente da República depois de ações supostamente abusivas perpetradas notadamente por dois de seus 11 ministros: Alexandre de Moraes e Luiz Roberto Barroso.
“O Estado Democrático de Direito só existe com Judiciário independente, livre para decidir de acordo com a Constituição e com as leis. No âmbito dos nossos estados, tudo faremos para ajudar a preservar a dignidade e a integridade do Poder Judiciário. Renovamos o chamamento à serenidade e à paz que a nossa Nação tanto necessita“, diz a nota, assinada pelos governadores Renan Filho (Alagoas), Waldez Góes (Amapá), Rui Costa (Bahia), Camilo Santana (Ceará), Ibaneis Rocha (Distrito Federal), Renato Casagrande (Espírito Santo), Flávio Dino (Maranhão), João Azevedo (Paraíba), Paulo Câmara (Pernambuco), Wellington Dias (Piauí), Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), João Dória (São Paulo) e Belivaldo Chagas (Sergipe).
Com o salário mínimo mal dando para comprar uma dezena de botijões de gás, a inflação em ritmo bem acima do adequado e ameaçando fugir do controle, mais de 14 milhões de desempregados, uma CPI transformada em piada no mundo todo e tantos outros problemas graves, nossos ilustres habitantes do Planalto Central (de situação e de oposição) bem que poderiam nos poupar desse circo de horrores. Isso para o bem de todos, inclusive deles próprios.