Pandemia x pandemônio
Conhecendo Miroslau Bailak como conheço, me atrevo a dizer que ele há semanas não consegue encostar a cabeça no travesseiro e tirar uma boa noite de sono. Expoente da chamada saúde humanizada há décadas, por mais que isso represente a ele perda e não ganho financeiro, Miro tem feito o que se espera de um gestor que aceita ser atirado na fogueira por sua devoção à causa pública e colocar sua experiência a serviço da luta pela resolução do pandemônio em que a pandemia foi transformada não só pela virulência de seu agente causador, o terrível coronavírus, mas também daqueles que não hesitam em pegar carona na desgraça alheia quando isso pode representar ganho para seus projetos políticos ou pessoais.
É chover no molhado dizer que os profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate à Covid-19, tanto em Cascavel (onde hoje os casos ativos foram a 486, os internados em leitos de UTI a 108 e os óbitos a 728) quanto em qualquer outra cidade do País, vivem um drama sem precedentes no último século, que é agravado, na maioria dos casos, pela falta de estrutura e pela remuneração injusta a julgar pelo valor inestimável da devoção que eles têm demonstrado à saúde pública. Mas seria um grande equívoco imaginar que isso pudesse ser resolvido como num passe de mágica, até pelo fato de tal situação afetar praticamente o mundo todo e não apenas a nossa cidade ou o nosso País.
De domínio público a perder de vista, os problemas da saúde pública brasileira ganharam volume e gravidade neste momento e não há solução mágica capaz de resolvê-los numa simples canetada. Ainda mais neste momento, que já é complicado por si só, mas tem sido agravado sobremaneira pela ação de políticos que, ao contrário do que procuram passar, estão interessados em resolver os problemas seus e não os da coletividade.
Diante disso tudo, talvez fosse recomendável que os agentes políticos locais que buscam minar de forma sorrateira o trabalho do setor de saúde abram mão de determinadas vantagens imerecidas por eles e seus asseclas usufruídas há tempos por força de um modelo que já se mostrou não só ineficaz, mas também criminoso. E se isso não for suficiente, que abdiquem da vida pública e tentem se dar bem na vida privada, onde uma parcela significativa da população se vê hoje obrigada a vender o almoço para comprar o jantar.