Seria cômico se não fosse trágico
A despeito de seu cunho meramente eleitoreiro - o objetivo central não é outro que não minar a candidatura de Jair Bolsonaro à reeleição -, a CPI da Pandemia tem dado ao Brasil uma contribuição inestimável para, digamos, desanuviar a visão daquela expressiva parcela da população possuidora de políticos de estimação sobre o que realmente se passa em Brasília, para os mais apegados aos ensinamentos bíblicos uma espécie de inferno particular da nação brasileira.
Na terça-feira (11), por exemplo, o presidente da Anvisa fez uso de uma franqueza totalmente incomum no (sub) mundo político ao denunciar a existência de uma espécie de Ministério da Saúde paralelo estrelado pela médica Nise Yamaguchi - que se fez profissionalmente em São Paulo, mas é natural de Maringá e viveu boa parte de sua infância em Cascavel - e que levou o governo a retardar a compra de vacinas e gastar horrores para financiar a produção em grande escala da polêmica cloroquina, com direito, inclusive, a uma forçação de barra para mudar a bula de forma a apresentar esse medicamento como uma espécie de solução milagrosa para este apocalíptico novo coronavírus.
E ontem, em um arroubo de franqueza raras vezes visto em nosso Parlamento, dois senadores trocaram “elogios” capazes de ruborizar até aos mais boquirrotos."Imagina a situação: um cidadão honesto ser preso por um vagabundo como o Renan Calheiros”, disparou Flávio Bolsonaro, depois que o relator da CPI ameaçou prender o ex-secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, por este ter faltado com a verdade sobre a ação negacionista do governo relacionada à pandemia."Vagabundo é você, que roubou dinheiro do pessoal do seu gabinete”, reagiu Renan, em alusão ao escândalo da rachadinha em que Flávio está implicado.
Apesar de não fazer parte do protocolo político, escancarar o baixo nível moral do nosso Congresso e envergonhar a Nação como um todo, essa troca de"gentilezas"cavalares não é de todo deplorável, pois quando o político pauta seus discursos na verdade, por mais horrenda que esta seja, o eleitor tem a chance de conhecê-lo melhor e, a partir disso, decidir se é ou não digno do seu voto. (Foto: Marcos Oliveira/Ag. Senado)