É possível noticiar casos de suicídio. Mas de que forma?
Profissionais de imprensa reuniram-se na manhã desta quinta-feira (19) na Prefeitura de Cascavel para discutir um tema delicado, polêmico e instigante: a morte por suicídio. A dúvida diária, diante de tantas ocorrências isoladas de casos, é: vamos divulgar ou não?
O assunto é tabu na sociedade e os manuais de redação sempre orientaram a não divulgar, justamente para evitar o suicídio por contágio - o conhecido Efeito Werther - para não estimular quem está em sofrimento e com ideias suicidas, além de preservar os familiares. Contudo, embora tão antigo quanto a própria humanidade, o assunto passou a ser tratado como problema de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde já partir da década de 1990 e, com o advento das redes sociais, na atualidade já não passa despercebido.
Assim como outras doenças que merecem atenção e esclarecimento de formas de prevenção, este tipo de morte também pode ser prevenido com divulgação correta, contribuindo para que as pessoas em sofrimento e os familiares sintam-se acolhidos e incluídos, visualizando possíveis saídas. Diante de tudo isso, o problema já não está mais só no fato de divulgar o suicídio, mas na forma de fazê-lo.
?A disseminação apropriada da informação e o aumento da conscientização são elementos essenciais para o sucesso de programas de prevenção do suicídio?, explicou o secretário de Saúde, Thiago Stefanello, enfatizando que os formadores de opinião têm papel fundamental na abordagem correta da temática, pois desta forma podem contribuir para ajudar quem está em sofrimento, as famílias destas pessoas em depressão e, assim, até mesmo reduzir as estatísticas e, não, o contrário, estimulando mais casos.
O encontro com os jornalistas foi realizado pela Secretaria de Saúde, com apoio da Secretaria de Comunicação e parceria do Ministério Público do Estado do Paraná, 4º Grupamento de Bombeiros e Consamu, com objetivo de discutir justamente a abordagem do suicídio nos canais de notícias, uma vez que a mídia desempenha papel significativo na sociedade, proporcionando alcance da informação e influenciando fortemente atitudes, crenças e comportamentos.
?Não podemos negligenciar o tema, pois ele existe, é uma realidade crescente que requer cuidados na divulgação. Contudo, existe um protocolo de atendimento nestas ocorrências, que é diferenciado, humanizado, que exige treinamento dos socorristas e também dos jornalistas que cobrem estas notícias, principalmente para preservar as vítimas. Nossa ideia não é impedir o trabalho da imprensa, mas orientar a melhor forma de realizar um trabalho conjunto?, alertou o segundo tenente Cícero, do 4º GB. Ele e a soldado Ellen detalharam aos comunicadores as formas mais apropriadas de abordagem no momento de cobrir esse tipo de pauta, explicando como é realizado o trabalho dos socorristas e qual deve ser a melhor conduta dos repórteres e cinegrafistas, visando à segurança tanto dos profissionais, quanto da vítima e também a qualidade da notícia que chega à população.
SETEMBRO AMARELO
A reunião fez parte das atividades do Setembro Amarelo, dedicado a intensificar ações de saúde mental e de prevenção do suicídio, contribuindo para disseminar canais de ajuda, como parte das estratégias do Ministério da Saúde, que lançou uma Agenda Estratégica de Prevenção do Suicídio, uma vez que o Brasil está entre os países que assinaram o Plano de Ação em Saúde Mental 2015-2020, com objetivo de acompanhar o número anual de mortes e o desenvolvimento de programas de prevenção, o qual visa reduzir, até 2020, em pelo menos 10% a mortalidade por suicídio. Essa redução também faz parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Estatísticas atuais apontam que mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida a cada ano. Essa é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
Uma das estratégias do Ministério da Saúde foi ampliar o credenciamento de Caps e fortalecer a Rede de Atenção Psicossocial (Atenção Básica, Hospitalar e Urgência e Emergência), visando ao atendimento gratuito das pessoas com problemas de saúde mental.
Também foi ampliada a rede do CVV (Centro de Valorização da Vida) em todo o Brasil, tornando gratuita a ligação pelo 188. A pessoa ou o familiar pode conversar com um atendente capacitado, de forma anônima, que dará o suporte necessário no momento da crise. Além do atendimento telefônico, a entidade também presta assistência pessoalmente, via e-mail ou chat.
CARTILHA
O Ministério da Saúde também elaborou uma cartilha com orientações aos profissionais de comunicação, intitulada "Suicídio: Saber, Agir e Prevenir", com informações de como tratar a temática, o que evitar e o que divulgar. Segundo a gerente da Divisão de Saúde Mental da Secretaria de Saúde de Cascavel, Iara Agnês Bach da Costa, não é interessante divulgar tentativas de suicídio, ou casos isolados de mortes por suicídio, ainda mais com o uso de imagem. Por outro lado, é fundamental que a mídia aborde o tema, sempre informando telefones úteis, onde buscar ajuda, os sinais de alerta e utilizar linguagem adequada, distribuindo material com foco na identificação de sinais de alerta e ajuda à comunidade. (Foto: Secom)