Tortura ofusca o talento do goleiro do milésimo gol
A morte de Edgardo Norberto Andrada, ocorrida ontem à noite, aos 80 anos, está sendo lembrada menos pelo futebol que o consagrou como um dos melhores goleiros da sua época e mais por sua suposta atuação como membro da ditadura do país vizinho. Conhecido mundialmente por ter sofrido o milésimo gol de Pelé no jogo Vasco da Gama 1x2 Santos, em 19 de novembro de 1969, no Maracanã, ele deixou a vida para entrar para a História como inimigo da população argentina.
Revelado pelo Rosário Central, Andrada conquistou a titularidade da seleção de seu país antes de mudar para o Brasil, onde defendeu Vasco (pelo qual foi inclusive campeão brasileiro) e Vitória da Bahia. Depois, retornou à Argentina para defender inicialmente o Colon e, por fim, o modesto Renato Cesarini, pelo qual encerrou a carreira em 1982, já com 43 anos de idade.
Em 2007, Andrada voltou a ter sua rotina ligada ao futebol trabalhando como preparador de goleiros do Rosario Central, mas logo teve que se afastar definitivamente do futebol por conta de uma acusação de participação na tortura e assassinato dos militantes Osvaldo Agustín Cambiaso e Eduardo Pereyra Rossi.
Segundo o processo, depois de pendurar as luvas o ex-goleiro passou a colaborar com a ditadura militar por meio do PCI (Pessoal Civil de Inteligência), órgão que atuava na espionagem e na repressão aos inimigos do sistema.
Andrada foi denunciado pelo repressor Eduardo Constanzo e acabou imediatamente demitido pelo seu clube. O processo seguiu até fevereiro de 2012, quando o juiz federal Carlos Villafuerte Ruzo concedeu a ele inimputabilidade no caso por falta de provas, mas essa história ficou mais marcada em sua vida que o seu talento debaixo das traves.