BNDES financiou jato a empresa cascavelense
O prédio localizado no número 951 da Avenida Tancredo Neves, principal via de acesso a Cascavel para quem vem de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e da região de Foz do Iguaçu, guarda os segredos de uma das mais bem sucedidas empresas da cidade.
Nesse endereço funciona a sede administrativa da Jota Ele Construções Civis Ltda, maior construtora do Oeste, terceira maior do Paraná e décima terceira maior do Brasil, conhecida por projetos executados em diferentes partes do País e que há décadas orgulha os cascavelenses não só pelos empregos que gera, mas também pela qualidade do trabalho que executa.
Os negócios progrediram tanto que se tornou indispensável a aquisição de uma aeronave melhor para conduzir seus diretores em viagens destinadas a fiscalizar projetos em andamento e prospectar novos negócios. Foi aí que a empresa adquiriu um jato PT-FLX com capacidade para quatro passageiros na configuração normal, mas podendo levar até seis ou sete com um único tripulante.
E os voos transcorriam sem nenhuma intercorrência até ontem, quando o site O Antagonista publicou com exclusividade a lista de empresas brasileiras constantes do que o presidente Jair Bolsonaro definiu como caixa preta do BNDES por terem se beneficiado de juros subsidiados para aquisição de aeronaves de última geração.
Ao todo, o BNDES emprestou via bancos privados um total superior a R$ 1,9 bilhão para esse fim, o que, segundo a área técnica do banco estatal, levou a uma perda de aproximadamente R$ 700 milhões de dinheiro do contribuinte em valores corrigidos.
"O caso dos jatinhos é, mais uma vez, a política [de incentivo] dos campeões nacionais ou dos amigos do rei. Você pega dinheiro do trabalhador e, travestindo de uma política econômica, dá dinheiro a juro quase zero a quem já é milionário", resumiu o presidente do banco, Gustavo Montezano.
O Alerta Paraná entrou em contato ainda no início da manhã com a Jota Ele Construções Civis Ltda, que não deu retorno imediato. A resposta veio apenas agora à tarde por parte da assessoria jurídica. "A empresa precisava comprar um avião e a Embraer tinha uma condição ddiferente de financiamento, apenas isso. Não há nada de iletal. Tudo foi feito absolutamente dentro da normalidade e da legalidade", disse a advogada Renata, ressaltando que a aquisição da aeronave ocorreu ainda em 2010.
FIGURÕES
Apesar de conceituada nacionalmente, a Jota Ele, que aparece na lista como beneficiária de um financiamento de pouco menos de R$ 6,5 milhões, é das menos conhecidas entre as 134 empresas que se beneficiaram da generosa política econômica do BNDES na era Lula e Dilma para aquisição de jatinhos, uma necessidade para elas, mas que certamente custaria muito mais cara se fosse atendida com financiamentos de bancos privados.
Entre os proprietários dos dez jatinhos mais caros financiados pelo banco público estão o governador de São Paulo, João Doria (R$ 44 milhões), e os irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS (R$ 39,8 milhões). Mas no topo da lista figura o empresário Michael Klein (Casas Bahia), que pagou R$ 77,8 milhões por um jato executivo adquirido ainda em 2013.
A família Moreira Salles (Itaú-Unibanco) também usufruiu da linha de financiamento do BNDES, pagando apenas 4,5% ao ano de juros por um empréstimo de R$ 75,5 milhões para adquirir uma aeronave em nome da Brasil Warrant Administradora de Bens.
Em seguida aparecem CB Air Taxi Aéreo (R$ 77,78 milhões), Brasil Warrant Adm de Bens (R$ 75,46 milhões), Sumatera Participações (R$ 65,96 milhões), Construtora Estrutural (R$ 64,01 milhões), Industrial e Comercial Brasileira (R$ 59,11 milhões), Lojas Riachuelo (R$ 55,52 milhões), Neo Táxi Aéreo (R$ 44,97 milhões) e Eurofarma Laboratórios (R$ 43,99 milhões). A paranaense Agropecuária Umuarama Ltda recebeu outros R$ 16,2 milhões.
Também usufruíram do programa do BNDES o advogado Pedro H. Xavier, que defendeu o ex-diretor da Galvão Engenharia Erton Medeiros, e o doleiro Carlos Habib Chater, parceiro de Alberto Youssef e dono do Posto da Torre, marco zero da Lava Jato, além de Wilson Quintella, da Estre Ambiental, outro preso na Lava Jato, além da Confederal Vigilância, empresa do ex-senador Eunício Oliveira.
ARTISTAS
Mas a lista de beneficiários não é formada só por donos de grandes empresas e políticos. Dela também fazem parte empresas pertencentes a artistas famosos, como o apresentador de TV Luciano Huck (R$ 17 milhões), a dupla sertaneja Vitor e Léo (R$ 6,4 milhões) e a cantora baiana Cláudia Leite (R$ 6,1 milhões).