Quem mandou hackear a cúpula da Lava Jato?
Desde ontem, quando a Polícia Federal anunciou a prisão de quatro supostos implicados na invasão dos celulares de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, que formavam a cúpula da Operação Lava Jato, a pergunta mais venda no País inteiro é: quem mandou hackear o agora ministro da Justiça e o procurador federal?
E a resposta provavelmente comece a ser encontrada nesta quarta-feira (24), durante os depoimentos que os acusados estão prestando em Brasília, para onde foram transferidos após serem presos em São Paulo. O DJ Gustavo Henrique Elias Santos, conhecido pelo nome artístico de Guto Dubra, foi o primeiro a ser ouvido. Ele disse que viu mensagens interceptadas de Moro no celular do Walter Delgatti Neto, também preso ontem - os outros são Danilo Cristiano Marques e Suelen Priscila de Oliveira, esposa de Delgatti.
Juntos, segundo as investigações, os quatro fizeram movimentações bancárias de R$ 627 mil entre março e junho, mesmo tendo rendas mensais formais bem modestas. Além disso, outros R$ 100 mil em dinheiro vivo foram apreendidos no apartamento de Gustavo.
"A identificação de toda essa rede, de possíveis mandantes e financiadores do crime é fundamental para que possamos entender com clareza os objetivos por trás dessa série de delitos que causaram grande instabilidade política e desnudaram a fragilidade do sistema de proteção de aplicativos de troca de mensagens. Certamente essa não é uma organização que atua ao acaso. Tentaram até se passar pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Está claro que existe aí uma cadeia de comando", afirmou hoje o deputado Rubens Bueno.
O aprofundamento da investigação, avalia o parlamentar paranaense, também servirá para atenuar o clima de suspeitas e troca de acusações que se instalou logo após a divulgação de conversas de integrantes da Operação Lava Jato e autoridades. "Há um clima de desconfiança geral que só uma investigação apurada poderá esclarecer. Já se levantaram suspeitas sobre grupos políticos, sobre interesse da defesa de acusados na Operação Lava Jato, sobre vazamentos com origem em próprios integrantes da força-tarefa e até mesmo de envolvimento internacional nesse episódio", disse Bueno.
PELO TELEGRAM
De acordo com as investigações da Polícia Federal, ao menos no caso de Sergio Moro os quatro suspeitos tiveram acesso ao código enviado pelos servidores do aplicativo Telegram para conseguirem invadir a conta no aplicativo. A estratégia usada está descrita na decisão do juiz Vallisney de Souza, da 13ª Vara Federal de Brasília, que determinou a prisão temporária deles.
?O Telegram permite que o usuário solicite o código de acesso via ligação telefônica com posterior envio de chamada de voz contendo o código para ativação do serviço Web, cuja mensagem fica gravada na caixa postal das vítimas. O invasor então realiza diversas ligações para o número alvo, a fim de que a linha fique ocupada, e a ligação contendo o código de ativação do serviço Telegram Web é direcionada para a caixa postal da vítima?, registrou o magistrado.
Além de Moro, foram alvo da invasão, segundo a decisão, o desembargador Abel Gomes (do Tribunal Regional Federal da 2ª Região), o juiz Flavio Lucas (18ª Vara Federal do RJ) e os delegados da PF Rafael Fernandes (lotado em São Paulo) e Flávio Reis (que atua em Campinas). (Fotos: Arquivo AGBR)