Bebidas finas viram álcool para higienização
Depois de cigarros, eletrônicos, peças de vestuário e veículos, as bebidas viraram um dos itens mais comuns entre os produtos apreendidos pela Receita Federal em ações de combate ao contrabando, que ao longo do ano passado bateram um novo recorde e chegaram ao equivalente a R$ 3,15 bilhões.
Diariamente, grandes quantidades de vinho, uísque, vodka, licor e outras bebidas são confiscadas pelos fiscais da RF sobretudo no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, estados que fazem divisa com o Paraguai e a Argentina, portas de entrada da maior parte dessas bebidas em território brasileiro.
E qual é o destino dado a elas? O que pouca gente sabe é que a maior parte dessas bebidas, cujo descarte poderia representar um problema ambiental de alto risco, é transformada em uma solução interessante pela Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná), localizada em Guarapuava.
Desde 2008 a Agência de Inovação Tecnológica dessa instituição de ensino e pesquisa usa essas bebidas como matéria-prima para a produção de álcool etílico (líquido e em gel), daquele encontrado em qualquer supermercado e utilizado em serviços de higienização.
Nove delegacias da Receita Federal desses estados enviam à Unicentro cerca de 90 toneladas por ano de bebidas apreendidas, que são transformadas em até seis toneladas de álcool em gel e cinco toneladas de álcool de limpeza. Sem isso, as bebidas iriam para aterros sanitários e certamente contaminariam os lençóis freáticos.
Todo o material produzido pela Novatec é utilizado no setor de saúde da própria universidade ou doado para órgãos públicos, como unidades de saúde, escolas municipais e estaduais, delegacias e batalhões de polícia, Corpo de Bombeiros, Detran e para a Defesa Civil, que distribui o álcool em gel para a população atingida por eventos como inundações.
PRODUÇÃO
Professores e estudantes dos cursos de Química, Administração e Farmácia da Unicentro estão envolvidos no processo de reaproveitamento. As bebidas destiladas e fermentadas recebidas da Receita são separadas em tambores de mil litros e armazenadas em tanques aéreos.
É então iniciada a destilação, em um processo parecido com os alambiques. Na primeira etapa, o produto é transformado em álcool com 40% a 50% de pureza. Um novo processo de retificação é feito, para o produto chegar a um grau de 86% de pureza.
O material é levado para o laboratório de análises para chegar ao álcool 70, quando o líquido já pode ser utilizado para limpeza. Para a fabricação do gel, outros produtos químicos são adicionados. O material é envasado na própria universidade, em embalagens a granel, de 5 quilos, ou nos pumps de álcool em gel, para então serem distribuídos às instituições parceiras. (Foto: Assessoria Unicentro)