Com as pedras que me atiras, universo, farei o quê em 2032?
Alceu A. Sperança
Eles sempre atingem a Terra. Na madrugada do dia 6 de maio, a chuva de meteoros Eta Aquáridas (https://x.gd/LObhr) premiou o planeta com muitos filhotes do Cometa Halley, e muitos outros ainda cairão por um bom tempo.
Não mudarão um fio de cabelo de ninguém, mas sabemos que não restou um pelo, pena ou escama para contar a história do asteroide com cerca de 10 quilômetros de diâmetro que há 66 milhões de anos determinou a extinção dos dinossauros. Restaram as grandes ossadas mudas que narram a base do que presumimos conhecer.
Só que um novo enviado do céu com alto poder destruição se aproxima da Terra e tem data marcada para chegar, sem baldeações no caminho: o asteroide 2024 YR4, a uma velocidade impressionante de 62.000 km/h, virá perto do Natal de 2032, em 22 de dezembro, indesejável estrela do Além.
O pedregulho está cotado como 3 na escala de 10 de Torino e as especulações variam entre 1,3% e 3,5% sobre as chances de impactar algum lugar do nosso globo.
Há chances maiores de bater na Lua, mas os astrônomos mais medrosos temem que alcance Bogotá (Colômbia), Lagos (Nigéria) ou Mumbai (Índia).
O abençoado Patropi estaria fora dessas garras demoníacas. Mas, de qualquer forma, é uma pedrada que o universo nos manda e teremos que lidar com ela para afastar qualquer risco de alcançar a nós mesmos, filhos, netos e amigos.
Caminho das pedras
O bom da história é que já temos tecnologia capaz de detectar qualquer ameaça real vinda dos céus, pois o inferno que nos ameaça são as bombas que nós próprios fazemos para atirar em quem nos desafia.
Pelo sim, pelo não, a santa Nasa vela por nós. O plano dela é ter as cargas explosivas necessárias para pulverizar o 2024 YR4 prontas para depositar no bruto quando estiver mais perto.
Mas, como na alegoria de qual ratinho vai pôr o sino no pescoço do gato, o problema não é arranjar os explosivos, que já temos de sobra para destruir a Terra várias vezes: a questão é como alcançar o asteroide e cravar nele as cargas explosivas para implodi-lo, porque lhe lançar um míssil pode espalhar sobre nós pedaços de tamanhos diferentes.
Para saber que a quantidade de explosivos necessários será preciso abordar o intruso e conhecer a composição dele, pois não se pode errar num problema como esse.
Um erro pode fragmentar a pedrona em pedras menores, mas também perigosas para a Terra. É preciso saber do que ele é feito e determinar com precisão a quantidade necessária para que vire pó.
São Turing
Até lá é possível que o, digamos, inventor do computador e da Inteligência Artificial, Alan Turing, venha a ser canonizado como santo.
Incompreendido em seu tempo, apesar de suas contribuições para a ciência - inclusive decodificando mensagens nazistas que poderiam levá-los a vencer a II Guerra Mundial se não fosse o trabalho dele - Turing foi terrivelmente perseguido por ser homossexual. Forçado a sofrer castração química, preferiu se matar.
A possível causa da santificação de Turing, o pai do computador, retratado no filme "O Jogo da Imitação" (https://www.youtube.com/watch?v=slXWIHYoPiY), é a popularidade de uma teoria formulada em 2023 pelo professor Melvin Vopson, da Universidade de Portsmouth, no mesmo Reino Unido que infelicitou Turing.
Vopson acha que nosso universo é uma simulação de computador. Até criou um teste que segundo ele funciona como uma "bíblia" para encontrar o suposto "código-fonte" do Universo.
O que seríamos nós, nesse caso, a não ser dados manipulados por um grande digitador do universo, que nos criaria e deletaria quando não servíssemos mais a seus altos desígnios, mandando um asteroide para nos destruir, por exemplo?
Seria interessante saber como o Grande Computador do Universo trata seus fiéis. Aparentemente faz isso mandando apóstolos nas redes sociais que convertem os incautos por meio de anjos caídos - os chatbots.
Monstros virtuais
Chatbots são os monstros invisíveis que fazem a postagem do malandro que os paga receber milhões de visualizações nas redes sociais. Um truque tecnológico que dez entre dez bandidos da política usam a toda hora para espalhar suas fake news.
Cornelia C. Walther, que lida com pesquisas sobre Inteligência Artificial na Universidade da Pensilvânia, acha que se você interagir com um chatbot e similares ele vai espionar tão profundamente sua vida que vai saber tudo sobre você e dominá-lo por meio de truques maliciosos.
Nessa assustadora perspectiva, navegar freneticamente nas redes sociais funciona como entregar as chaves da própria vida aos robôs dominados por financiadores asquerosos que dominam a política e a economia: você vai comprar o que eles quiserem e votar em quem eles ditarem.
Somos enganados até quando pedem nossa opinião: as pesquisas dizem que a maioria esmagadora da população rejeita o semipresidencialismo (71%, segundo a AtlasIntel), mas diariamente o Congresso mais estende seus tentáculos e o impõe na prática, pois pagam para que a rejeição não domine as redes sociais. Viralizou, ou é mentira ou é irrelevante.
O aumento no número de parlamentares, que passou liso, sem protestos nem manifestações nas ruas, é só a ponta do iceberg. O presidente, de uma vez por todas, subiu no telhado. O Grande Irmão que realmente governa o Brasil, está na cara, é o Centrão. Ele vence todas as eleições. (Ilustração: Mescla)
Alceu A. Sperança é escritor e jornalista - alceusperanca@ig.com.br