Sobre ser pobre
J. J. Duran
A trilogia pobreza/ignorância/delinquência é uma constante nas análises feitas por sociólogos, jornalistas e políticos, quase como se esses elementos estivessem sempre associados.
Muitas vezes nos esquecemos que ninguém, ao nascer, escolhe ser pobre, ignorante ou marginal. É a sociedade que induz a essa triste situação.
Ficamos falando dos pobres como se eles não constituíssem uma categoria social que forma parte de um todo completado pela classe média e pelos ricos.
Existe uma tendência, quase inconsciente, de estigmatizar as pessoas pobres, o que leva milhões de brasileiros a serem precocemente julgados e condenados.
Costumo falar e escrever que se queremos construir um País melhor e mais igualitário, temos que trocar nossa forma de ver o quadro.
Precisamos olhar as pessoas carentes de recursos econômicos como parte da nossa sociedade e encontrar meios efetivos, não paliativos tipo esmola oficial, para tirá-las dessa situação.
Igualdade não significa transferência de direitos de uma classe para outra menos favorecida, mas sim dar oportunidade. Como assim? Legislando e governando com seriedade e com a visão necessária sobre os giros surpreendentes que a geopolítica impõe.
A violência cotidiana, seja onde for, se converteu num caso patológico de irracionalidade coletiva e é fruto do fracasso absoluto do conjunto da sociedade, mas principalmente dos governantes.
Se mirarmos o cenário de 20 anos atrás das cidades onde moramos, veremos com espanto que o quadro que nos circunda piorou muito e chegaremos à conclusão de que continuar investindo pesado no aparato repressivo não é uma "solução mágica" para o problema, bem como que a construção pura e simples de escolas, fábricas e presídios não nos devolverá o sossego perdido.
Há que avançar no enfrentamento das desigualdades e procurar construir um ambiente no qual, independente da condição econômica, cada um se sinta parte importante da sociedade.
Uma sociedade, diga-se de passagem, que neste momento não cumpre o seu papel, procurando sempre jogar nas costas dos outros a culpa pelo quadro que a circunda, e que um dia vai olhar para o passado e lamentar o fato de ter estigmatizado os pobres. (Foto: Marcello Casal Jr/AGBR)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário de Cascavel e do Paraná