Bolsonaro desmente tentativa de golpe com prisão de autoridades
Já passava das 16h40 desta terça-feira (10) quando chegou ao fim o depoimento de Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal no processo que investiga uma suposta trama golpista, cujo desfecho foram os atos violentos ao próprio STF, ao Congresso Nacional e ao Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro de 2023.
Inquirido durante cerca de três horas por ministros da Suprema Corte e pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, o ex-presidente da República negou reiteradamente que tivesse cogitado a hipótese de um golpe de Estado. "Tem os malucos que ficam com essa ideia de AI-5, de intervenção militar das Forças Armadas... Os chefes das Forças Armadas jamais iam embarcar nessa só porque o pessoal estava pedindo ali", afirmou, referindo-se às manifestações em frente aos quartéis.
Bolsonaro admitiu que discutiu com auxiliares e comandantes militares alternativas "dentro da Constituição" para tentar reverter o resultado da eleição de 2022, reiterando sua desconfiança em relação ao sistema eletrônico de votação, mas garantiu que jamais tratou com qualquer auxiliar de uma eventual tentativa de ruptura democrática.
"Conversei sim com militares, de forma isolada, para trocar informações sobre a conjuntura, porque, ministro, quando você perde uma eleição, é um vazio que o senhor não imagina. A gente conhece os amigos exatamente nesse momento. Pouca gente te procura, o pessoal quer distância", acrescentou.
"As conversas eram bastante informais, não era nada proposto, ‘vamos decidir’. Era conversa informal para ver se existia alguma hipótese de um dispositivo constitucional para a gente atingir o objetivo que não foi atingido no TSE. Isso foi descartado na segunda reunião", garantiu.
Além de assegurar que não havia clima para uma ruptura, Bolsonaro desmentiu qualquer suposto plano de prisão de autoridades, notadamente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, tampouco que chegou a ser ameaçado de prisão durante uma hipotética reunião para debater um eventual golpe.
XANDÃO DE VICE
Para surpresa de muitos, o clima durante o depoimento passou a ideia de cordialidade entre os principais personagens nele envolvidos. Tanto assim que, em dado momento, Jair Bolsonaro pediu a Alexandre de Moraes se podia fazer uma brincadeira e, diante da inexistência de impedimento, disparou: "Eu gostaria de convidá-lo para ser meu vice em 26". "Eu declino", respondeu Moraes, o que provocou risadas de todos os presentes.
Durante o interrogatório, Bolsonaro também pediu desculpas a Moraes por declarações nas quais chegou a insinuar, sem provas, que integrantes do STF estariam envolvidos em corrupção durante as eleições. "Um desabafo, uma retórica que eu usei. Então, me desculpe, não tinha qualquer intenção de acusar de qualquer desvio de conduta os senhores", afirmou. (Foto: Antonio Augusto/STF)